29 de maio de 2009

O compadrewashingtonismo e a sua imensa legião de adeptos



Um dos clichês dos quais não conseguimos nos desviar é aquele que diz que "todo mundo nasceu para brilhar". Eu gosto de um outro dizer, de autoria do meu pai: "Ninguém nasceu com vocação para caixa de banco" - com todo respeito aos respectivos profissionais da área. De certa forma, as duas frases, se não querem dizer exatamente a mesma coisa, pelo menos se completam para significar: "Seja lá qual for, eu tenho um dom e devo vencer fazendo uso dele".

Pieguices lairribeirianas à parte, esse velho papo é frequentemente contrariado desde sempre. E há um símbolo dessa resistência, provando que é possível apenas vencer por vencer, sem haver qualquer justificativa ou evidência de talento ou mérito. Seu nome: Compadre Washington.

Pensem no boom da axé music nos anos 90, e no seu epicentro lá estava Washington, ao lado de seus colegas do É O Tchan!. Sem fazer juízo de valor do material produzido pela banda - ok, desisto, era uma merda -, era possível entender por que dava certo, pois todos ali contribuíam para o sucesso: Karla Perez, Sheila Melo e Scheila Carvalho eram as gostosas rebolativas; Jacaré, o sorridente e sarado dançarino; Beto Jamaica, o cantor; e Washington... Washington... Washington... O que ele fazia mesmo? Para não dizer nada, pouco: ele desfilava pra cima e pra baixo no palco, limitando-se a gritar o nome de seu conjunto. Mais do que isso, ninguém sabe, ninguém viu. E foi assim por anos e anos.

Se Compadre Washington é o exemplo mais notável de muito sucesso por nada, certamente não é o único - pelo contrário, há um bando de gente adepta do compadrewashingtonismo. Querem ver?

1º) MARCO LUQUE E BOLA

Marco Luque é um cara engraçado, tem boas tiradas, o show de stand-up comedy dele deve ser bacana etc.; mas é difícil entender o que ele faz ali no CQC. Vejamos: Marcelo Tas é o apresentador e cabeça - com trocadilho - do programa, Rafinha Bastos também faz reportagens, sendo o titular do quadro Proteste Já... Enquanto isso, Luque só fica fazendo piadas rapidinhas, em intervenções que não ultrapassam 15 segundos. Vida mais mansa do que Danilo Gentili, Oscar Filho, Felipe Andreoli, Rafael Cortez... E todos eles poderiam estar na bancada.

Pior ainda é o caso de Bola, cuja especialidade é ficar assoviando e fazendo jabá dos patrocinadores. "Ah, mas de vez em quando ele participa dos quadros!". Claro, claro... Sem qualquer graça que justifique sua presença no grupo de humoristas, certo?

2º) ASTRID FARNSWORTH, DE FRINGE

Em cena, ela só serve para ter seu nome esquecido por Walter Bishop ou para passar tubos de ensaio para o cientista. E o mais incrível é que Astrid não é assistente laboratorial, mas sim uma... AGENTE DO FBI. E a danada aparece em todos os episódios!

Bom, a verdade é que poucas vezes eu vi um personagem tão inútil de uma série aparecer com tanta frequência sem de fato participar para valer dela. Como ainda faltam uns três episódios para eu terminar de ver o ano de estreia da série, mas eu duvido de que ela ganhe uma maior relevância nesta reta final da temporada... embora saiba que ela vá continuar aparecendo tanto quanto Philip Broyles e Nina Sharp - personagens que REALMENTE importam na trama.

3º) DEDÉ SANTANA

Todo mundo que tem mais de 25 anos cansou de morrer de rir com Mussum, Zacarias, Didi... mas são poucos que devem ter rido com alguma coisa que Dedé fez - eu, por exemplo, não conheço ninguém que tenha achado graça nele na vida.

Antes que experts em humor digam que o papel do "escada" - aquele bucha que em cena só serve pra levantar a bola pro humorista principal cortar - é importante, me pergunto: será que Renato Aragão, Mauro Gonçalves e Antônio Carlos Bernardes não encontravam coisa melhor não?

4º) FRED, DE SCOOBY-DOO

Ele sempre teve a banca de ser o líder da turma do furgão, mas nunca resolveu nenhum mistério. Nunca. Porém, no momento de arrancar as máscaras de diversos golpistas que se passavam por fantasmas, monstros, assombrações etc., lá estava ele - ou seja, na hora boa, ele aparecia! E desaparecia muito bem também, escolhendo a companhia da Dafne na hora de investigar. Um biscoito Scooby pra quem me disser a importância de Fred.

5º) BRUNO DE LUCA

Ex-ator, ex-repórter, O irrelevantemente versátil - ou versatilmente irrelevante? - De Luca acabou ganhando um programa (!!!) de TV, em que ele faz viagens pelo mundo, sempre devidamente ciceroneado. Por conta dos guias que o cercam, De Luca conseguiu um fenômeno incrível: ser o Compadre Washington de si mesmo, já que não faz a menor diferença para a atração que comanda. Não é para qualquer um.

6º) GILMAR NA COPA DE 1994

Claro que toda seleção que disputa uma Copa costuma ter três goleiros em seu plantel, mas nunca o terceiro arqueiro de uma equipe festejou e apareceu tanto quanto Gilmar na participação do Brasil na Copa dos EUA, em 1994. Quem via de fora, pensava que ele era o titular, tamanha a indiscrição. Mas todos sabemos que, naquela competição, Gilmar fez o mesmo que eu e você: foi espectador - só que de um lugar mais privilegiado...

Vejam bem: muita gente sabe que eu sou torcedor do Flamengo, e que por isso sou grato ao Gilmar por muitas glórias - sobretudo pelo título do Campeonato Brasileiro de 1992. Mas se houvesse uma seleção dos compadrewashingtonistas dos mundiais no futebol, ele concorreria à braçadeira de capitão. Ou, melhor ainda, ficaria na reserva.

***

Os seis casos acima são apenas alguns exemplos de um grupo bem numeroso. Na real, os compadrewashingtonistas vão continuar eternamente por aí, com sua rara habilidade de fazer o pouco ou quase nada render bastante para eles mesmos. Definitivamente, ser ordinário é uma arte.

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Essa é do Carlão, do Tudo está rodando. Ótimo blog, aliás. Visite regularmente!

4 comentários:

Anônimo disse...

Fraco!

Anônimo disse...

Vai pros links da Semana no Saci :D
Abraços!!!

É do ardo? disse...

concordei com todos, bem legal......

LK disse...

Meu velho, sempre que te leio me sinto o cara mais desatualizado do mundo. nao conheco essas figuras, com a exceção do dedé e Fred, claro.hehehe
O dedé só poderia ser um zero a esquerda mesmo, dada tamanho narcisismo do didi, que chamou mais dois caras que acreditou que não iam ofuscar ele, mas nao adiantou nada: mussum sempre roubou a cena.. rsss
Já o Fred, sempre achei que o desenhista quis colocar ele como mero figurante masculino, pra ficar proporcional (2 mulheres, 2 caras, um cachorro), mas depois que vi o filme, conclui que ele e a Daphne eram o simbolo da futilidade.. ela toda patricinha e anoréxica e ele um gayzinho futil e narcisista.. Isso tudo pra evidenciar o quanto a Velma, uma discreta outsider, se destacava em astúcia... E voce tem razão, ele só é um papagaio de pirata na historia mesmo..